Um carro popular no Brasil pode ter até 1 km de cabos de energia |
Quando se pensa nas partes de um automóvel, é provável que a maioria das pessoas cite o motor, o radiador, a bateria, as rodas e vários outros componentes antes de se lembrar dos cabos elétricos. Embora sejam pouco lembrados, os cabos que formam os circuitos elétricos de um carro proporcionam o funcionamento da maioria dos itens de conforto e segurança, sem os quais não conseguiríamos sequer ligar os veículos. Essa talvez seja a principal semelhança entre os cabos de energia residenciais e os automotivos: conectar dispositivos que proporcionam conforto e segurança para os usuários. As semelhanças, no entanto, param por aí. “Tanto os circuitos residenciais quanto os automotivos trabalham em baixa tensão, mas nos veículos a tensão é ainda menor, pois estamos falando em algo entre 24 e 12V em corrente contínua (DC), enquanto nas instalações domésticas temos o 127 e 220V em corrente alternada (AC)”, explica Rubens Campos, gerente comercial do Grupo Prysmian. “A seção e o peso dos cabos automotivos também é bem menor, podendo chegar até a 0,13 mm². Você vai encontrar cabos mais grossos, de 10 até 16 mm², somente em circuitos como o da bateria, pois essa é a principal fonte de alimentação do veículo”, completa. Numa residência, por outro lado, temos cabos de 1, 1.5, 2.5, 4 e 6 mm² na maioria dos circuitos de iluminação e tomadas, chegando até 16 mm² no caso das entradas que chegam da rede de distribuição da concessória de energia. O Grupo Prysmian é o maior fabricante de cabos de energia e telecomunicações do mundo e, na planta industrial de Sorocaba/SP, produz cabos automotivos para as mais variadas OEMs e aplicações, com temperatura de operação entre 80ºC a 125ºC. A nível mundial, a empresa é capaz de produzir todos os tipos existentes, importando soluções de outras unidades quando solicitado pelos clientes, que podem ser os sistemistas – também conhecidos como ‘chicoteiros’ – ou as próprias montadoras. Os chicoteiros são responsáveis pela montagem dos ‘chicotes’, um conjunto formato por fios, cabos, terminais e conectores que passam por todo o veículo transmitindo energia, é claro, mas também informações e dados. “Cada chicote pode ter inúmeros cabos, cuja quantidade vai variar conforme a sofisticação do carro. Um modelo popular pode ter algo entre 800 m a 1 km de cabos, mas um modelo de alto padrão pode facilmente passar dos 3 km de cabos”, explica Rodnei Ancilotto, engenheiro de produto sênior do Grupo Prysmian. Essa diferença se deve à quantidade de itens adicionais que um carro de alto padrão possui, como sensores traseiros e dianteiros, câmera de ré, airbags, central multimídia, aquecimento de banco e muitos outros. Outra diferença significativa em relação à instalação residencial está na mobilidade. Embora estejam fixados nas estruturas do carro, ao se movimentar pelas ruas e estradas, os circuitos vibram intensamente e por isso precisam ser mais resistentes à abrasão. A construção de um condutor automotivo é baseada, internacionalmente, pela norma ISO 6722-1, a ser substituída em breve pela ISO 19642 – adicionalmente, as montadoras costumam complementar essa norma com diretrizes próprias e exigem dos fornecedores a homologação em testes de performance e qualidade para então comprar os componentes. A construção dos cabos costuma ser simétrica (A) e assimétrica (B e C) em relação à disposição dos condutores dentro da proteção isolante. A principal finalidade do cabo automotivo tipo A é ter uma espessura de isolamento mais constante, porém, é mais rígido. Já os cabos B e C possuem condutores em maior quantidade, tornando-se mais flexíveis. A flexibilidade é importante em cabos com seções maiores, que exigem mais em termos de potência e corrente como os da bateria, que precisam ser maleáveis para serem ajustados nos concorridos espaços do carro. “Outro atributo importante de um cabo automotivo é a variedade de classes de temperatura, pois a depender da região onde o circuito será instalado a temperatura pode mudar em poucos centímetros de diferença, como é o caso do motor”, alerta Rubens. Já que estamos falando de cabos elétricos, é importante considerar a tendência dos carros elétricos, que já são realidade até mesmo no Brasil, mas ainda pouco conhecidos ou acessíveis aos consumidores em geral. O que muda na parte elétrica em um carro desse tipo? O modelo elétrico tem a maioria das comodidades e itens de segurança de um carro convencional à combustão, ou seja, ele tem rádio, vidro elétrico, luz interna de leitura, aquecimento no banco, uma série de circuitos e sensores que tendem a continuar os mesmos em termos de função. “Para essa parte convencional, a tendência de mudança está na miniaturização desses cabos, ou seja, seção cada vez menores para conseguir transportar cada vez mais energia e dados ocupando o menor espaço e pesando o menos possível”, avalia Rodnei. As maiores mudanças que um carro elétrico traz para os circuitos está justamente no da bateria e do motor, que tendem a transportar uma potência cada vez maior, com tensões maiores comparadas a um veículo tradicional – dos 24V nos convencionais podem ultrapassar os 500V nos elétricos. “As partes específicas de bateria e motor vão transportar grandes potências nos carros elétricos, logo, exigirão cabos novos. Eles precisarão receber isolamento e cobertura extras, além de uma camada interna de blindagem. Serão, em resumo, cabos de várias camadas, bastante flexíveis e seções grandes, até 70, 95 e até 120 mm²”, completa Rubens. |