Veículo híbrido é o primeiro passo para a eletrificação no Brasil, apontam engenheiros

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No 7º Simpósio SAE BRASIL de Veículos Elétricos e Híbridos, especialistas discutiram estratégias para o avanço da mobilidade elétrica

A mobilidade elétrica é caracterizada por grandes mudanças na arquitetura dos veículos, cujo custo indica que o Brasil apostará na hibridização como primeiro passo para alcance de volume de produção global, com diversas possibilidades de tecnologias, e aproveitamento da matriz energética. Esta foi uma das mensagens do 7º Simpósio SAE BRASIL de Veículos Elétricos e Híbridos, realizado em São Paulo, dias 12 e 13 de novembro, sob a direção do engenheiro Ricardo Takahira, membro da Comissão Técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE BRASIL. O encontro – que integrou a programação do 30º Salão Internacional do Automóvel – reuniu lideranças de montadoras, sistemistas, centros de pesquisa, distribuidores de energia, universidades e órgãos do poder público em quatro painéis de palestras e debates. O simpósio ainda contou com a presença de Otacílio Gomes Junior, diretor geral SAE BRASIL, além de Renato Mastrobuono e Gábor Deák, conselheiros da SAE BRASIL.

Para abrir as discussões, Rodrigo Amado, gerente de Desenvolvimento de Tecnologia de Materiais Automotivos da CBMM, disse que as tecnologias compartilhadas, elétricas, autônomas e conectadas representam os pilares de investimento em mobilidade e destacou as contribuições do nióbio para os futuros desenvolvimentos. “O nióbio pode ser utilizado em baterias para a melhoria de eficiência em carregamento e autonomia. Isso está em desenvolvimento, então é uma aposta de como o nióbio pode ajudar a mobilidade elétrica”, afirmou.
Infraestrutura – Infraestrutura para recarga de veículos pesados foi o foco de Valter Luiz Knihs, diretor industrial de Sistemas & eMobility da WEG, que apresentou novos desenvolvimentos em eletropostos para cargas rápidas ou lentas e destacou a necessidade da conectividade para os sistemas de recarga. “Tudo precisa ter informação disponível e acesso a qualquer momento porque não se pode chegar com o veículo pesado a um posto e se deparar com o local ocupado por alguém que ficará por duas horas”, comentou. Depois, Marcus Bittar, consultor de Desenvolvimento de Negócios SIMULIA para América Latina da Dassault Systems, abordou tecnologia de simulação já empregada, conhecida como Virtual Twin, que permite a criação de veículos com maior nível autonomia, com o objetivo de minimizar a necessidade de infraestrutura de recarga nas cidades. “Para o desenvolvimento de novos veículos, nós precisamos investir maciçamente em tecnologias que permitam fazer do carro um computador”, resumiu.
Daniel Gabriel Lopes, diretor comercial da Hytron, apontou que a limitação da rede de energia elétrica favorece a utilização de veículos elétricos a hidrogênio, sendo o hidrogênio obtido via reforma de etanol. “No futuro, veículos elétricos a bateria serão utilizados para pequenas distâncias e veículos elétricos a hidrogênio para médias e grandes distâncias”, disse Lopes.
Num painel sobre políticas públicas, Fernando Campagnoli, especialista em Regulação de Serviços de Energia Elétrica na Superintendência de P&D e Eficiência Energética da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), falou sobre a Rede de Inovação no Setor Elétrico (RISE), aplicada à mobilidade elétrica, cuja finalidade é reunir agentes do setor elétrico, grupos de pesquisas e representantes da indústria para desenvolvimento de produtos com inserção no mercado, por meio de programas de P&D e eficiência energética. “A ANEEL não é uma agência de criar tecnologia, então precisa propiciar um ambiente regulatório para organizar os atores que efetivamente realizam esse trabalho”, contou. O Rota 2030 foi o foco da apresentação de Ricardo Zomer, analista de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), que destacou o objetivo do novo programa, que é fazer do setor automotivo nacional uma indústria competitiva em todo o globo. “O Rota 2030 não é só essa lei, mas uma estratégia com uma série de iniciativas que serão tomadas pelo governo, como a criação do Plano Nacional de Eletromobilidade, com propostas de políticas que devem ser atacadas a partir do próximo ano”, apontou Zomer.
Tendências – No segundo dia, Ricardo Abe, gerente de Engenharia de Produto da Nissan do Brasil, abriu as discussões com apresentação sobre sistema de célula a combustível a base de etanol em fase de desenvolvimento, chamado e-Bio Fuel-Cell, desenvolvido em protótipo de veículo comercial, que tem autonomia de 600 km com 30 litros de etanol. “É uma alternativa à célula a combustível de hidrogênio tradicional, com possibilidade de reduzir custo e obter eficiência similar ou superior”, afirmou. Em seguida, Régis Errerias, engenheiro de Produto da General Motors do Brasil, apresentou estudo de caso sobre o modelo elétrico Bolt EV, que possui autonomia de 383 Km, e destacou inovações técnicas que permitiram otimização de deslocamento, economia e confiabilidade, entre outros aspectos. “O veículo elétrico pode ser tão grande e luxuoso quanto um carro convencional e apresentar autonomia estendida”, afirmou.
Ainda sobre tendências, Newton Santos, gerente de Vendas, Engenharia de Aplicações e Projetos da BorgWarner, falou sobre o módulo P2 de hibridização do powertrain como primeiro passo para a melhoria da eficiência energética. “Representa o casamento de duas tecnologias, o motor elétrico e o motor a combustão – se for etanol, melhor ainda, com o mínimo de alteração na arquitetura do veículo, o que permite baratear o desenvolvimento”, avaliou. Marcio Renato Alfonso, CEO da Caoa Chery, mostrou estudo em andamento que faz comparativo entre diferentes motorizações, com o objetivo de conceituar um veículo REx (de “range extender” ou extensor de autonomia). “Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio para entregar o máximo possível, de modo que o consumidor consiga absorver”, apontou.
Motorsport – O último painel contou com sessão de perguntas sobre motorsport. Lucas Di Grassi, CEO da Roborace e piloto de Fórmula E, falou sobre a criação da Roborace, competição de veículos elétricos com direção autônoma, que visa promover o desenvolvimento de tecnologias e comunicar à população que os veículos autônomos são seguros. Di Grassi também destacou a importância da criação de uma equipe brasileira por meio de financiamento privado. “Nós perdemos muitos talentos para fora”, apontou. O painel também reuniu professores de universidades responsáveis por orientar estudantes no desenvolvimento de carros elétricos do tipo Fórmula para a Competição Fórmula SAE BRASIL. Neste assunto, Fábio Delatore, professor do Centro Universitário FEI, disse que um desafio é encontrar alunos dispostos a desenvolverem o trabalho. “As pessoas são imediatistas”, disse. Fernando Arruda, professor da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), também apontou o desafio de identificar pessoas aficionadas pelo conhecimento e pelo automobilismo. “O objetivo é abrir as portas para essas pessoas e dar acesso a tecnologias que atinjam alta performance”, afirmou. José Antenor Pomílio, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), contou que os próprios estudantes estão se colocando em novos desafios com o objetivo de terem melhor controle sobre todos os elementos do projeto.